Dissonância cognitiva. Grosso modo acontece quando há um fosso grande entre a realidade interior do que se crê e acredita e a realidade exteriorizada pelas atitudes.
Verdades reprimidas. Quando existe um fosso grande entre o que se é e o que se mostra ser.
Este não é um fórum de psiquiatria, mas sente-se no ar o risco. Da coisa descarrilar para perturbações de identidade por conta dos avatares, da rapidez de circulação da informação, do vamos fazer de conta que somos…
Os tempos são loucos. Informação á velocidade da luz, bots que imitam pessoas, algoritmos que parece que leêm mentes. E pessoas que se escondem por trás de um avatar.
Quer seja porque a rapidez circulação da informação e as mudanças rápidas são vistas como uma oportunidade, ou porque são vistas como uma ameaça.
O problema surge quando o avatar sai da internet e é encorpado no dia a dia.
Muitas verdades são reprimidas para manter a fachada do avatar criado.
Quanto maior for o fosso entre a realidade sentida e a realidade exterirorizada, maior é o risco de ocorrer uma certa dissonância cognitiva.
Perturbações psicológicas no horizonte. O mundo à beira de um ataque de nervos.
1. A dissonância cognitiva e os seus impactos
Não é que seja uma doença mas gera conflito interno e o conflito interno pode degenerar em perturbação psicológica ou não.
Na maior parte as vezes o conflito interno é resolvido de uma das formas:
- ou a pessoa faz mudanças dos seus valores para diminuir o fosso (da dissonânca cognitiva) entre o que acredita e as suas atitudes;
- ou a pessoa traz para fora o que realmente acredita e sai a autenticidade para fora, que “casa” com o avatar.
O objectivo é só um: reduzir o ruído moral, o desconforto e conflito interno que a dissonância cognitiva cria.
Os sinais de dissonância cognitiva? Eis alguns:
- Sentir desconforto antes de fazer alguma coisa ou tomar uma decisão.
- Tentar justificar ou racionalizar uma decisão que tomaste.
- Sentir vergonha e tentar esconder as tuas acções de outras pessoas.
- Sentir culpa ou arrependimento sobre algo feito no passado.
- Fazer coisas devido a pressão social, coagido(a) a cumprimentos forçados (forced compliance) ou medo de perder oportunidades (FOMO ou Fear of Missing Out)
Em suma, emoções como: o stress e a ansiedade, a vergonha, o arrependimento, a tristeza persistente são formas como a dissonância cognitiva se faz sentir, como ela se manifesta.
Conseguiste identificar algumas situações na tua vida? Quase de certeza.
Acho que qualquer adulto em alguma fase da vida entrou em dissonância cognitiva. Quase inevitável.
A forma como lidamos com a dissonância cognitiva é que vai ditar a forma como a mudança se vai dar.
E as mudanças que vamos experimentar é que vão dizer quem tem as rédeas na nossa vida: se somos nós mesmos ou o ambiente externo a nós.
E em todos os sinais assinalados há uma coisa em comum: há verdades que não foram expressas. Há verdades reprimidas.
2. As verdades reprimidas
Ter verdades reprimidas é uma forma de autoabandono.
A mensagem que estamos a passar para nós próprios é que aquilo que acreditamos ser verdade: tem pouco valor, não importa, é irrevelante, não muda nada. E isso pode ser uma forma de autoabandono.
Claro que também se pode alegar que se reprime uma verdade para proteger algo ou alguém. Mas isso é relativo: no longo prazo uma verdade reprimida ou uma mentira, causa muitos mais danos do que qualquer suposta garantia de protecção.
Reprimimo-nos de expressar uma qualquer verdade: dizemos não quando na realidade queremos dizer sim. Dizemos sim quando cá dentro alguma coisa grita não.
E isso é uma forma de não-existência. Pronto: não vamos exagerar.
É uma forma diminuída de existência. E nós existimos. Porque não tentar sê-lo em pleno?
Ok: viver em sociedade exige compromissos. E os compromissos têm do outro lado da balança, os sacrifícios. Quando nos comprometemos com algo, estamos a sacrificar qualquer coisa. É normal.
É normal e faz parte do crescimento ter que abdicar de qualquer coisa, pelo caminho do crescimento. Inclusive valores: podem passar a ser obsoletos.
É normal e saudável abandonar determinados valores que se opõe ao nosso crescimento pessoal.
O que não é nada saudável nem normal é sacrificar valores que nos são estruturais e nos quais acreditamos, por pressão exterior, para substituir por outros valores nos quais não acreditamos.
A transformação é louvável, desejável e necessária ao crescimento.
Transformarmo-nos em experiências de Frankesteins sociais tem um quê de aberrativo. Tem muito pouco de louvável, não é coisa que se deseje, conscientemente ser, e tampouco é necessário.
Quando reprimimos verdades internas, criamos dissonância cognitiva entre o que acreditamos e as acções que temos.
E para diminuir o desconforto e o conflito interno dessa dissonância, abdicamos daquilo em que acreditamos para passar a haver compatibilidade com as nossas atitudes, acções. E assim diminuímos o fosso entre o nosso interno e o avatar social.
Pode ser um crescimento positivo, uma expansão, se for feita de uma forma consciente, em que sabes quem és, sabemos que somos e também sabemos em quem nos queremos tornar, que transformações queremos ter. E isso é um ganho.
Mas também pode representar uma opressão. Pode esmagar-te a alma. Fazer-te sentir pequeno(a) aos teus próprios olhos. E isso é devastador para uma pessoa. Destrutivo e não necessariamente, de uma forma positiva.
De uma maneira ou de outra, perante sinais de dissonância cognitiva a tendência natural de sobrevivência, é diminuir o fosso que foi criado entre a verdade interior e o avatar.
Há outra forma de diminuir o fosso. A outra maneira.
3. The other way: authenticity
À laia de atalho, a outra forma é a autenticidade.
Obviamente que tem custos pessoais. Mas os benefícios ultrapassam em largo os custos:
- Obriga-te a ter autoconhecimento. Para que é que isso te serve? Paa fazeres melhores escolhas de vida e definires limites firmes ao que te é externo e não te ajuda a crescer.
- Sabes quando dizer não e quando dizer sim: como o foco passa a ser o respeito próprio deixas de dizer sim ou não, só para agradar os outros.
- Tendes a ter mais coragem para a assumir as tuas responsabilidades: porque percebeste que as tuas escolhas tem consequências sobre ti. E preferes fazê-lo em função de quem és ou queres ser, sentes e acreditas. E não em função do que os outros são, sentem ou acreditam.
- Fortalece-te a saúde mental. Porque não estás em constante conflito interno, desenvolves níveis de auto-estima mais saudáveis.
- Desenvolves resiliência mental porque sentes confiança em ti. Porque é que sentes confiança em ti? Porque és leal a ti mesmo. Se és leal contigo: sabes que és uma pessoa de confiança. Se és desleal contigo, mesmo que mais ninguém saiba: tu sabes que não és de confiança. És a tua primeira testemunha: pro bem e para o mal.
- Sabes que as pessoas que se sentem atraídas por ti, realmente gostam de ti: porque te estás a dar a conhecer por quem és.
Claro que se valorizas pouco os benefícios acima citados, isto vai dizer-te pouco.
E está tudo bem.
O que interessa é que saibas quem és: para não ter perderes de ti mesmo no meio desta confusão de tanta informação, contra-informação, influenciadores, comunicação social, redes sociais, desta sociedade líquida.
Desde que tenhas o teu norte.
Mas que há magia em ser autêntico: há.
Getting Better Every Day
Authentic Hugs
From Body&Soul!
Referências e Blogues Relacionados:
https://www.verywellmind.com/what-is-cognitive-dissonance-2795012
https://bodyandsoulbizz.co.uk/do-you-know-who-you-are-what-drives-you/
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